Atlas de Palavras

Duarte Belo

Atlas de Palavras é um conjunto de 144 palavras que considero serem significativas para a descrição do trabalho por mim desenvolvido. O número de palavras foi fixado a partir da necessidade de criar um limite. Optei pelo quadrado de doze (12×12=144) por esta quantidade se aproximar do número a que cheguei numa primeira fase de reunião indiscriminada de palavras. Houve, posteriormente, uma afinação sucessiva no sentido de estabilizar um número.Esta estrutura representa um modo pessoal de interpretação e leitura do mundo, da vida e do Universo. No limite, qualquer ser pode agrupar as palavras que são significativas para si e ordená-las de um modo significante. O conjunto de todas as interpretações de todos os seres dar-nos-ia uma imagem tendencialmente abrangente da Terra, da interpretação do habitar num planeta específico.
A principal referência, gráfica e conceptual, deste quadro é a Tabela Periódica dos elementos químicos, que sintetiza o próprio Universo no sentido em que toda a matéria existente está ali descrita.
Estas palavras representam um prolongamento do trabalho desenvolvido em fotografia e a necessidade de clarificar o pensamento, a estrutura deste ofício que, de algum modo, migra da terra para a imagem e, posteriormente, para a palavra. Esta abordagem veio a revelar-se muito fértil em termos do desenvolvimento do trabalho em novas frentes. Um universo pessoal com várias saídas como, por exemplo, a associação de imagens, singulares ou conjuntos, a cada palavra, escrita de texto, ligação a projetos elaborados no passado. Também se poderão associar diferentes palavras, cujo significado conjunto será diferente de cada uma delas.
Há palavras em falta e estas representam um estímulo para o aperfeiçoamento progressivo desta unidade. Esta é fonte que permite desvios que se podem manifestar em novos trabalhos e interpretações da realidade.
Há derivas poéticas a explorar onde tudo é possível. Qualquer leitura é permitida, válida. Há um caminho de solidão em direção à finitude. Deixar uma casa arrumada antes de partir, como quem deseja encontrar a ordem depois do regresso. Fechar um ciclo de passagem. Deixar um campo lavrado para a geração seguinte. Ou uma casa, uma ideia de arquitetura, o vislumbre possível de uma próxima invenção biológica que altere significativamente a realidade presente. Um desenho possível de coerência.
Duarte Belo, Maio 2024

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